O câncer não é uma doença, mas muitas desordens que
compartilha uma profunda desregulação do crescimento
O neoplasma é uma massa anormal de tecido, cujo crescimento é
excessivo e não coordenado com aquele dos tecidos normais, e persiste da mesma
maneira excessiva após a interrupção do estímulo que originou as alterações. –
resulta de alterações genéticas que são passadas adiante para a prole das
células tumorais – permitem a proliferação excessiva e desregulada que se torna
autônoma.
Todos os tumores, benignos e malignos, apresentam dois
componentes básicos: (1) células neoplásicas clonais que constituem seu
parênquima e (2) estroma reativo feito de tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e
quantidade variável de macrófagos e linfócitos.
Tumores benignos e malignos podem ser distinguidos com base
em sua diferenciação e anaplasia, na sua taxa de crescimento, na invasão local
e nas metástases.
·
Diferenciação=
refere-se à extensão com que as células do parênquima neoplásico lembram as
células parenquimatosas normais correspondentes, tanto morfológica quanto
funcionalmente; em geral os tumores benignos são bem diferenciados.
·
Anaplasia=
falta de diferenciação; é considerada uma marca registrada da malignidade. Significa
“transformar-se para trás”, indicando uma reversão da diferenciação para um
nível mais primitivo.
·
Metaplasia=
é definida como a substituição de um tipo celular por outro tipo celular, sendo
quase sempre encontrada em associação com os processos de dano, reparo e
regeneração teciduais.
·
Displasia=
crescimento desordenado, com freqüência ocorre no epitélio metaplásico. É
caracterizada por uma constelação de alterações que incluem a perda da
uniformidade das células individuais, assim como a perda de sua orientação
arquitetônica.
Taxa de
crescimento:
É determinada por três fatores principais: o tempo de
duplicação das células tumorais, a fração das células tumorais que se encontram
no grupo replicativo e a taxa com que as células são perdidas ou morrem.
O crescimento dos tumores normalmente não está associado ao
encurtamento do tempo do ciclo celular. À medida que o tumor continua a
crescer, as células deixam o grupo replicativo em números continuamente
crescentes como conseqüência da descamação, da falta de nutrientes, da necrose,
da apoptose, da diferenciação e da reversão da fase não proliferativa do ciclo celular
(G0).
Invasão local:
Praticamente todos os tumores benignos crescem como uma
massa expansiva coesa que permanece localizada em seu sítio de origem e não
apresenta a capacidade de infiltrar, invadir ou metastatizar para sítios
distantes, geralmente desenvolvem uma margem de tecido conjuntivo comprimido (cápsula
fibrosa) que o separa do tecido hospedeiro. Essa cápsula não evita que o tumor
cresça, mas mantém o tumor benigno como uma massa discreta, facilmente palpável
e bem móvel, que pode ser enucleada cirurgicamente. O crescimento dos cânceres
é acompanhado por infiltração progressiva, invasão e destruição dos tecidos
circunjacentes. Em geral, os tumores malignos são pouco demarcados do tecido
normal ao seu redor e não há um plano de clivagem bem definido; ressecção
cirúrgica difícil ou mesmo impossível.
Metástases:
As metástases são implantes tumorais descontínuos com o
tumor primário. A invasividade dos tumores malignos permite que eles penetrem
nos vasos sanguíneos, linfáticos e cavidades corpóreas, provendo a oportunidade
para a disseminação.
Comparação entre
tumores malignos e benignos:
CARACTERÍSTICAS
|
BENIGNO
|
MALIGNO
|
DIFERENCIAÇÃO/ANAPLASIA
|
Bem diferenciado; estrutura ás vezes típica do tecido de origem
|
Certa falta de diferenciação com anaplasia; estrutura freqüentemente
atípica
|
TAXA DE CRESCIMENTO
|
Geralmente progressiva e lenta; pode chegar a um ponto de paralisação
ou regredir; figuras mitóticas raras e normais
|
Instável e pode ser desde lenta a rápida; figuras mitóticas podem ser
numerosas e anormais
|
INVASÃO LOCAL
|
Geralmente são massas coesivas, expansivas, bem delimitadas, que não
invadem ou infiltram o tecido normal circunjacente
|
Localmente invasivo, infiltrando o tecido circunjacente; algumas
vezes pode ser aparentemente coesivo e expansivo
|
METÁSTASES
|
Ausentes
|
Freqüentemente presentes; quanto maior e mais indiferenciado o
primário, maior a probabilidade de metástases
|
Incidência do
câncer:
Os tumores mais comuns no homem surgem na próstata (25%),
nos pulmões (15%) e na região colorretal (10%). Em mulheres, os cânceres de
mama (26%), pulmão (14%) e da região colorretal (10%) são os mais freqüentes.
(dados de 2008)
CARCINOMA DA MAMA
O carcinoma
da mama é a malignidade não da pele mais comum em mulheres.Uma mulher que vive
até os 90 anos tem uma chance em oito de desenvolver câncer de mama.
Estimativa
de 2007: 178.480 mulheres foram diagnosticadas com câncer invasivo de mama,
62.030 com carcinoma in situ( neoplasma pré invasivo, ocorrem alterações
displásicas porém a lesão permanece confinada pela membrana basal. Espera-se
que o número de mulheres com câncer de mama aumente cerca de um terço nos
próximos 20 anos.
A maioria
dos carcinomas tem receptor estrogênico positivo (RE) e é caracterizada por uma
assinatura genética dominada pelas dúzias de genes sob o controle do estrógeno.
Carcinomas RE-positivos e RE-negativos mostram conflitantes diferenças no que
diz respeito às características patológicas, resposta terapêutica e sobrevida.
Incidência e epidemiologia:
Após
permanecer constante por vários anos, a incidência do câncer de mama começou a
aumentar em mulheres mais idosas, em parte devido à introdução do screening
mamográfico no inicio dos anos 80. O benefício principal do screening é a
detecção de pequenos, predominantemente RE-positivos, carcinomas invasivos e
carcinomas in situ. O CIDIS ( carcinoma ductal in situ) é quase que
exclusivamente detectado pela mamografia.
É possível
que a terapia de reposição hormonal tenha estimulado o crescimento ou
desenvolvimento de cânceres RE-positivos. É sugerido que a incidência de
cânceres RE-negativos não seja afetada por esse tratamento.
Desde 1994,
as taxas de mortalidade do câncer de mama para todas as mulheres têm declinado
lentamente de 30% a 20%. Esse decréscimo é atribuído à detecção de cânceres
clinicamente significativos em um estagio de cura, devido ao screening, assim
como as melhores e mais efetivas modalidades de tratamento.
Fatores de risco:
O sexo é o
fator de risco mais importante, somente 1% dos casos de câncer de mama ocorrem
em homens.
Idade: a
incidência aumenta durante a vida da mulher, com pico na idade de 75-80 anos. É
muito raro em todos os grupos(mulheres brancas, hispânicas e afro-americanas)
antes dos 25 anos de idade
Idade da
menarca: mulheres que atingem a menarca antes dos 11 anos de idade têm um risco
20% maior, comparado ao de mulheres que tiveram a menarca acima dos 14 anos de
idade. A menopausa tardia também aumenta o risco.
Idade do
primeiro parto: mulheres com primeira gestação antes dos 20 anos de idade têm
metade do risco de mulheres nulíparas ou das mulheres acima dos 35 anos no seu
primeiro parto. Supõe-se que a gestação resulte em uma diferenciação terminal
das células luminais produtoras de leite, removendo-as do conjunto potencial de
precursores cancerígenos.
Parentes em
primeiro grau com câncer de mama
Hiperplasia
atípica
Raça/ etnia:
mulheres brancas não hispânicas têm as mais altas taxas de câncer de mama. As
mulheres afro-americanas e hispânicas tendem a desenvolver cânceres em idade
mais jovem, antes da menopausa, que são mais presumivelmente pouco
diferenciados e RE-negativos. Mutações no p53 são mais comuns em
afro-americanas. Suspeita-se que a variação nos genes de risco para câncer de
mama através dos grupos étnicos seja responsável, ao menos em parte, por essas
diferenças.
Exposição
estrogênica: a terapia de reposição hormonal aumenta o risco de câncer de mama
em 1,2- 1,7 vez.
Etiologia e patogenia:
Os
principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama são
hormonais e genéticos. Carcinomas mamários podem, portanto, ser divididos em
casos esporádicos, provavelmente relacionados à exposição hormonal, e casos
hereditários, associados a mutações germinativas.
·
Câncer
de mama hereditário:
A herança de
um gene ou genes susceptíveis é a causa primária de aproximadamente 12% dos
cânceres de mama. Em algumas famílias, o risco aumentado é resultado de uma
única mutação em um gene de câncer mamário altamente penetrante. Mutações em
BRCA1 e BRCA2 são responsáveis pela maioria dos cânceres atribuídos a mutações
únicas e cerca de 3% de todos os cânceres de mama. A penetrância (percentagem
de portadoras que desenvolvem câncer de mama) varia de 30% a 90%, dependendo da
mutação específica presente.
Cânceres
mamários BRCA1 associados são comumente pouco diferenciados, têm “alterações
medulares” (padrão de crescimento sincicial com margens impelidas e resposta
linfocítica), e não expressam receptores hormonais ou superexpressam HER2/neu
(o chamado fenótipo “triplo negativo”). Os cânceres BRCA1 estão também
freqüentemente associados à perda do cromossomo X inativo e à reduplicação do X
ativo, resultando na ausência do corpúsculo de Barr. Os carcinomas mamários
BRCA2 associados também tendem a ser relativamente pouco diferenciados, mas são
mais freqüentemente RE – positivos que os cânceres BRCA1. A síndrome
Li-Fraumeni (devida a mutações germinativas no p53) e as síndromes Li-Fraumeni
variantes (devidas as mutações germinativas no CHEK2), juntas, são responsáveis
por cerca de 8% dos cânceres de mama causados por genes únicos. Três outros
genes supressores tumorais, PTEN(síndrome de Cowden), LKBI/STK11 (síndrome de
Peutz-Jeghers) e ATM (ataxia teleangiectasia), são mutantes em menos de 1% de
todos os cânceres mamários. Os conhecidos genes de alto risco para câncer
mamário são responsáveis por cerca de um quarto dos canceres mamários
familiares.
Mutações
“gene único” mais comuns associados a suscetibilidade hereditária para câncer
de mama:
GENE
|
%
de canceres hereditários “gene único”
|
Risco
de câncer de mama aos 70 anos de idade
|
Alterações
em canceres de mama esporádicos
|
BRCA1
|
52% (aprox.2% de todos os canceres de
mama)
|
40% a 90%
|
Mutações raras; inativos em 50% de
alguns subtipos
|
BRCA2
|
32% (aprox.1% de todos os canceres de
mama)
|
30% a 90%
|
Raras mutações e perdas da expressão
|
P53
|
3%(<1% de todos os canceres de
mama)
|
>90%
|
Mutações em 20%, perda de
heterozigosidade hormonal em 30% a 42%; mais freqüentes nos canceres triplo
negativo
|
CHEK2
|
5%(aprox.1% de todos os canceres de
mama)
|
10% a 20%
|
Mutações raras(<5%), perdas da
expressão proteica em no mínimo 1/3 por mecanismos desconhecidos
|
·
Câncer
de mama esporádico:
Os maiores
fatores de risco para câncer de mama esporádico estão relacionados à exposição
hormonal: sexo, idade da menarca e menopausa, história reprodutiva, amamentação
e estrogênios exógenos. Em sua maioria, os canceres esporádicos ocorre em
mulheres pós-menopausa e são RE-positivos. O p53 é o gene mutante mais comum
nesses tipos de câncer. A exposição hormonal aumenta o número de células alvo
em potencial, pela estimulação do crescimento mamário durante a puberdade,
ciclos menstruais e gravidez. A exposição também guia ciclos de proliferação
que colocam células em risco para dano do DNA. Uma vez que células pré-malignas
ou malignas estejam presentes, os hormônios podem estimular seu crescimento.
Um modelo de
carcinogênese postula que uma célula normal deve adquirir várias novas
capacidades para se tornar maligna. Cada uma pode ser adquirida por uma mudança
na atividade de um dentre muitos genes que regulam atividades celulares comuns.
Populaçoes de células que abrigam algumas, mas não todas, as mudanças genéticas
e epigenéticas necessárias para a carcinogênese dão surgimento às lesões
mamárias morfologicamente reconhecidas que estão associadas a um risco
aumentado de progressão do câncer. Muito cedo essas alterações são mudanças
proliferativas, as quais podem provir da perda dos sinais de inibição do
crescimento, aumentos aberrantes nos sinais pró-crescimento, ou decréscimo da apoptose.
O tipo
celular mais comum de origem da maioria dos carcinomas é a célula luminal
RE-expressiva. Carcinomas RE-negativos podem nascer de células mioepiteliais
RE-negativas.