Grande queimado
Funções da pele
·
Mantem a temperatura corporal;
·
Barreira e proteção (hidratação e infecção);
·
Órgão sensorial;
·
Função cosmética e de identidade;
Epidemiologia
Existem mais
de 500.000 lesões por queimaduras anuais nos EUA. Cerca de 40 a 60 mil
internações anuais por queimaduras nos EUA e mais de 5.000 mortes anuais nos
EUA.
Os óbitos
ocorrem em distribuição bimoldal, imediatamente após a lesão, ou semana após,
com resultado de falência múltipla dos órgãos. Grande causas das queimaduras
são previníveis.
Queimaduras
Grande vilão
que tem grande impacto sócio econômico. Correspondem ás lesões mais graves e
dolorosas da pele e das partes moles. Sempre realizar avaliação completa (ATLS),
buscando outros tipos de lesões. Sempre encaminhar para centros de Tratamento
especializados de queimaduras (CTQ), que são mais habilitados e vão fazer
tratamento mais intensivo, promovem melhor resposta na ressuscitação, melhor
preparo na condução da ferida, controle de infecção, tratamento da lesão inalatória,
melhor acompanhamento da resposta hipermetabólica, contribuindo para melhor
evolução clínica do paciente. Os pacientes que devem ser encaminhados para esse
centro são os seguintes:
·
Queimaduras com espessura maior que 10% da
superfície corporal;
·
Queimadura envolvendo a face, mãos, pés,
genitálias, períneo ou pele sobrejacente as articulações principais;
·
Queimaduras de espessura corporal;
·
Queimaduras elétricas, incluindo lesões por
raios elétricos;
·
Queimaduras químicas;
·
Queimaduras inalatórias;
·
Queimaduras em pacientes com comorbidades prévias
que possam complicar o tratamento, prolongar a recuperação ou afetar o desfecho
clinico;
·
Qualquer paciente com queimadura e trauma
concomitante, no qual a queimadura represente o risco imediato mais importante
de morbidade e mortalidade;
·
Crianças queimadas em hospitais sem pessoal
qualificado ou equipamento pediátrico;
·
Queimaduras em pacientes que irão necessitar de
intervenções sociais e emocionais especiais, ou de reabilitação á longo prazo.
O tratamento adequado pode diminuir a
mortalidade e também sequelas graves.
A
abordagem deve ser multidisciplinar: cirurgião experientes em queimaduras,
fisioterapeuta, nutricionista, assistente social, dentistas, farmacêuticos,
psiquiátricos e psicólogos clínicos.
Anatomia da pele:
Dividida em
derme, epiderme e subcutâneo. A derme é ainda subdivida em superficial e
profunda. Os pelos preservam a temperatura assim como os poros da pele.
Causas:
·
Chama (fogo): dano por ar superaquecido oxidado;
·
Escaldamento: dano por líquidos quentes;
·
Contato: danos por materiais sólidos quentes ou
frios;
·
Químico: por dano por produtos químicos nocivo;
·
Eletricidade: dano por condução elétrica pelos
tecidos;
As queimaduras
por chama, escaldamento e contato geram dano celular por necrose de coagulação
(a profundidade depende da temperatura, o dano é devido a transferência de
energia). As queimaduras químicas e por
eletricidade causam dano direto e transferência de calor por necrose.
Queimaduras por
óleo atinge áreas mais profundas do que a por água porque a gordura atinge
temperaturas mais elevadas. A pele providencia uma barreira a transferência de
energia para áreas subjacentes sendo que grande parte da lesão fica confinada a
esta. Contudo, após remoção do agente iniciante, a resposta dos tecidos locais
pode levar a lesão das camadas mais profundas.
Zonas de queimadura
A área de lesão cutânea é dividida em 3 zonas:
Primeira zona de coagulação (lesão direta, área necrótica da pele aonde as
células foram destruídas com danificação irreversível), zona de estase (tem
lesão moderada e perfusão tissular diminuída, dano vascular com extravasamento)
e zona de hiperemia (vasodilatação devido a inflamação circunjacente, local
aonde o processo de cicatrização se inicia).
Classificação:
r
Profundidade:
·
Primeiro
grau: lesão localizada na epiderme. São eritematosas, enrijecidas, dolorosas
com inchaço. Não resultam em cicatrizes e o tratamento é sintomático.
·
Segundo
grau superficial: lesão de epiderme e derme superficial. A área se
apresenta eritematosa, enrijecida, dolorosa, inchada com bolhas. Reepitelizam
espontaneamente em 7 a 14 dias, podendo ter leve descoloração cutânea após
cicatrização.
·
Segundo
grau profunda: lesão de epiderme e derme profunda. Apresentam-se pálidas,
dolorosas e se reepitelizam com 14 a 35 dias, muitas vezes formando cicatrizes
graves.
·
Terceiro
grau: epiderme , derme até gordura subcutânea. São não dolorosa (destrói
plexos nervosos) com destruição intensa da pele, tem consistência dura (semelhante
a couro) e cor escura, branca ou cereja. Requerem tratamento com enxertos
cutâneos.
·
Quarto
grau: lesão de epiderme, derme, gordura subcutânea, comprometendo musculo e
osso subjacente.
2)
Percentual
da área queimada
· Entre os adultos, a mais utilizada é a denominada regra de Wallace ou regra dos nove", baseada na divisão da superfície do corpo em múltiplas áreas que representam cerca de 9% do total da seguinte maneira: a cabeça, a face e o pescoço, 9%; cada membro superior, 9%; cada membro inferior, 18% (9% na parte anterior e 9% na parte posterior); a parte anterior do tronco, 18%; a parte posterior do tronco, 18%; e a zona genital, 1%.
·
Regra dos Onze (crianças): cabeça e face 11%;
membros superiores 11%; membros inferiores 11%; tronco de cada lado 11% (lado
direito e esquerdo).
Fisiopatologia
Queimaduras
graves que cobrem mais de 40% da superfície corporal são normalmente seguidas
de período de stress, inflamação (liberação maciça de mediadores inflamatórios
causando vasodilatação e edema local) e hipermetabolismo. Este ultimo é
caracterizado por uma resposta circulatória hiperdinâmica (taquicardia, aumento
de DC) com aumento da temperatura corporal, glicólise (fica hipoglicêmico),
proteólise (imunocomprometimento predispondo a infecções), lipólise
(hipercatabolico) e ciclo fútil substrato (queima de substrato para tentar
compensar o hipercatabolismo, mas não é suficiente). Essas respostas estão
presentes em todo o trauma, cirurgia, e em pacientes em estado critico, mas sua
gravidade, duração e magnitude são exclusivos para pacientes com grandes
queimados. Essa resposta pode se manter durante meses, levando a perda ponderal
e a redução da força. Essas respostas se devem em parte a liberação de hormônios
catabólicos como catecolaminas, glicocorticoides e glucagon.
O edema se forma em tecidos queimados e não
queimados. Além disso, no trato gastrointestinal ocorre atrofia da mucosa
Geraldo alterações na absorção digestiva e permeabilidade intestinal.
Paciente forma
mais edema, devido a perda de proteína. O paciente apresenta hipercatabolismo (tentar
suprir as perdas) que leva a desidratação e imunossupressão. Cria-se entao um ciclo vicioso que leva a
morte do doente. O paciente fica hipercatabolico, com alto DC,
imnocomprometido. Este estado só começam a normalizar após 2 anos. Há aumento
de hiperadrenismo com queda hormonal. A taxa metabólica pode aumentar em mais
140%. A perda proteica causa
imunodepressão o que torna a cicatrização mais lenta, além de aumentar o numero
de pneumonias e a formação de ulceras. Pode ter hepatomegalia devido a maior
produção proteica.
Causas mais comuns de morte: insuficiência respiratória (primeira
hora) e choque hipovolêmico nas 1as 24hs. Depois de 24hs a causa de morte é
sepse ou insuficiência renal.
Determinando a gravidade:
·
Alguma área critica esta envolvida?
·
Qual a profundidade (ou tipo) das queimaduras;
·
Qual a extensão?
·
Há outra lesão associada?
·
O acidente ocorreu a céu aberto ou dentro de uma
edificação?
Áreas criticas: face, sistema respiratório, mãos, pés, superfícies
articulares, períneo e genitália.
Queimadura por inalação: ver
risco, se tem fratura e se tem como retirar o paciente.
Escala de sobrevida de Tobiasen:
A extensão da
lesão é importante, se tem inalação ou não, a idade do paciente, a superfície
corporal queimada, tudo isso influi na mortalidade.
Sexo
|
Escore
|
Masculino
|
0
|
Feminino
|
1
|
Faixa
etária
|
Escore
|
<20
|
1
|
21-40
|
2
|
41-60
|
3
|
61-80
|
4
|
>80
|
5
|
Inalação de tóxicos
|
1
|
Queimadura integral da derme
|
1
|
Superfície
corporal queimada
|
%
|
<10%
|
1
|
11-20
|
2
|
21-30
|
3
|
31-40
|
4
|
41-50
|
5
|
51-60
|
6
|
61-70
|
7
|
71-80
|
8
|
81-90
|
9
|
>90
|
10
|
Escore
total de queimado
|
Sobrevida
|
2-3
|
99%
|
4-5
|
98%
|
6-7
|
80-90%
|
8-9
|
50-70%
|
10-11
|
20-40%
|
12-13
|
<10%
|
Situações criticas de comprometimento
·
Comprometimento respiratório;
·
Fraturas e trauma associadas;
·
Envolvimento de áreas criticas;
·
Segundo grau com mais de 30% ASC;
·
Terceiro grau em mais de 10%ASC;
·
Todas as queimaduras de choque elétrico;
Sinais e sintomas de comprometimento
respiratório
·
Tosse produtiva
·
Expectoração com fuligem
·
Falta de ar
·
Pele da face ou pelos chamuscados
·
Dor de garganta, rouquidão
·
Fuligem em torno da face
Tratamento
Seguir as
preocupações recomendadas. Remover o paciente da área de risco (pessoa esta
garrada na energia elétrica, retirar com um objeto ou luva isolante);
interromper o fogo, ou corrente, ou retirar o agente químico (lavar com agua
corrente entre os primeiros 10 minutos); enxaguar (com solução salina ou água
dentro de 15 minutos); conter hemorragias, estabilizar fraturas, utilizar
cobertura seca estéril (preservar o calor do paciente); se houver sinais de
gravidade, administrar oxigênio fundamental para cicatrização de feridas;
observar vias aéreas com muito cuidado e repetidas vezes e em lesões sujas perguntar
sobre vacinação de tétano.
No tratamento de emergência deve-se ter
atenção: à temperatura do paciente (cobertor); procurar lesões traumáticas
(cobrir ferida); estimar a gravidade; tratamento do choque (ressuscitação
volêmica- cristaloides: ringer lactato, soro fisiológico/não dar coloide porque
vai para o 3º espaço nas primeiras 24-48hs, depois desse tempo é fundamental
usar o coloide ou soluções hipertônicas para retirar liquido do 3º espaço. A
ressuscitação deve ser monitorada através do acompanhamento do debito urinário,
que deve ser de 0,5ml/Kg/h nos adultos e 1ml/Kg/h nas crianças); providenciar a
remoção do paciente para o hospital mais próximo ou para um cento especializado;
não administrar opioídes IM ou
subcutâneo porque nesse caso a circulação central esta privilegiada (absorção
da droga esta reduzida devido a vasoconstrição periférica) e assim pode haver
um flash de opioíde quando houver ressuscitação hídrica e a vasodilatação
aumentar a absorção do narcótico depositado, gerando parada respiratória. Deve
ser dado pequena dose de morfina EV.
O calculo da
ressuscitação hídrica é feito com uma formula que leva em consideração a área
de superfície queimada e o peso do paciente: peso X ASCT/8. Sendo, que nas
crianças essas formulas são modificadas. Outras medidas necessárias são manter
pelo menos 2 acessos de grande calibre para correr volume, Hb deve ser mantida acima de 10mg/ml.
Queimaduras por eletricidade tem risco de rabdomiose e assim deve-se dosar o
CPK e risco de acidose (repor bicarbonato). Intoxicação do por cianeto pode
usar a cianocolalamina como antídodo.
Lesão por
inalação dever ser sempre suspeitada e oxigênio 100% deve ser dado por mascara
facial (80% das mortes são lesão de inalação, se intubação depois de mais de 1
semana 25-50% morrem). Ao remover o paciente deve-se ter cuidado para que o
socorrista não se torne outra vitima. Uso de luvas, batas, mascaras e óculos de
proteção, devem ser usados sempre que houver contato provavelmente com sangue e
fluidos corporais.
Anéis, relógios, joias e cintos devem ser
removidos porque eles retêm o calor e pode produzir um efeito torniqueto-like. As bolhas devem ser retiradas, pois tratam-se
de tecido necrótico. Agua em temperatura ambiente pode ser derramada sobre a
ferida dentro de 15 minutos na lesão para diminuir a profundidade da ferida.
Em doentes que
tenham sofrido um acidente de explosão ou desaceleração, existe a possibilidade
de lesão da coluna cervical. Deve-se
então proceder a estabilização da coluna cervical apropriada por todos os meios
necessários, incluindo o uso de colares cervicais para manter a cabeça
imobilizada até que a condição possa ser avaliada. Avaliar broncoscopia de VAS
para diagnostico por inalação. A intubação precoce deve ser feita quando há
rouquidão progressiva (pode ser sinal de obstrução iminente de vias aéreas),
antes do edema distorcer a anatomia das vias aéreas (VM com VC baixo e
hipercapneia permissiva).
Criteirios para falar que a pessoa esta com insuficiência respiratória:
po2 <60; paco2 >50 (agudo), relação paco2/fio2< 200, insuficiência
respiratória limitante e edema de vias aéreas moderado a grave.
Importante
combater qualquer regurgitação com o íleo intestinal, um sonda nasogastrica em
todos os pacientes com grandes queimaduras para descomprimir o estomago.
As
recomendações para a profilaxia do tétano são baseado no estado da ferida e da
historia do paciente, a imunização. Todos os pacientes com queimaduras de mais
de 10% de ASC devem receber 0,5ml de toxóide de tétano. Se a imunização prévia
esta ausente ou é pouco clara, ou a dose de reforço final era mais de 10 anos,
250 U de imunoglobulina do tétano também deve ser administrada. O tétano é
comum de ocorrer em crianças e adultos acima de 50 anos. Nesse caso o paciente
faz muita insuficiência respiratória e deve-se deixar em local calmo sem
barulho porque qualquer estimulo pode gerar hipertonia.
É importante
fazer desbridamento de área diariamente. Feito em centro cirúrgico, nas bordas
da ferida deve-se escarificar. O paciente geralmente é sedado com midazolam
associado à quetamina, podendo ser usado também o propofol. Os curativos devem
ser periódicos. Em queimaduras muito profundas fazer rotação de retalhos.
Importante o paciente ter acompanhamento psiquiátrico.
Reposição volêmica
Sempre
vigorosa. Usar após as primeiras 48hs ringer lactato e coloides (modulação
periférica). Sugestão: formula de Parkland – 4ml/kg/% de área comprometida (faz-se
metade do resultado nas primeiras 8hs). Em crianças formula de Galveston que
usa 5000ml/ASC queimada (em m2) mais 2000ml/m2 total para manutenção nas
primeiras 24hs.
Escarotomia
Quando
as queimaduras de segundo ou terceiro grau envolvem a circunferência de uma
extremidade, a circulação periférica do membro pode ser comprometida. Em
queimaduras extensas com edema no 3º espaço pode ocorrer a síndrome
compartimental. Essas extremidades sob risco requerem escarotomia, que são
liberações da escara da queimadura, realizada no leito, pela incisão dos
aspectos lateral e medial da extremidade com um bisturi ou eletrocauterio.
Linhas de escarotomia são vistas no desenho. Essa técnica diminui edema local e melhora a
perfusão do membro. No caso de uma mão, são feitas incisões nos dígitos medial
e lateral do dorso da mão.
Queimadura química
Ocorre quando
uma substancia toxica entra em contato com o corpo. Geralmente por ácidos e
bases fortes. O grau de dano tissular, assim como o nível de toxicidade, é
determinado pela natureza química do agente, concentração do agente e duração
do contato cutâneo. Eles causam lesão pela destruição proteica. Os olhos são
particularmente vulneráveis e caso sejam atingidos deve-se lava-los
exaustivamente. O socorrista deve usar proteções e a prioridade é remover o
agente do paciente. Pós secos devem ser escovados das áreas afetadas antes da
lavagem.
Queimadura por eletricidade
Pode ser causada por energia de alta ou baixa
voltagem. O corpo é excelente condutor de eletricidade. Certifique-se de que a
fonte da eletricidade esta desligada antes de tocar o paciente e se estiver
longe da energia proteger como isolante e retirar o doente. Existirão duas
feridas (entrada e saída). Preparo para reanimação cardiopulmonar (gera
assistolia, fazer atropina, adrenalina e repor volume) é necessário. Importante
lembrar que nas queimaduras elétricas as áreas visíveis de necrose tissular
representam apenas uma pequena porção do tecido destruído. Durante a corrente o
musculo é o principal tecido pelo qual a corrente flui e por isso é o mais
acometido.
As lesões se
dividem em lesões de alta voltagem (graus variáveis de lesão cutânea nos
tecidos de entrada e saída com destruição oculta de tecido profundo) e de baixa
voltagem (queimadura semelhante à térmica, sem transmissão aos tecidos
profundos). As desordem mais graves ocorrem nas primeiras 24hs após a lesão. Os
pacientes devem ser avaliados como qualquer outro paciente com trauma contuso,
pois durante a queimadura elétrica o paciente pode se lançado e as contrações
tetânicas podem gerar graus diferentes de lesões.
O dano
muscular gera liberação de hemocromatinas que pode gerar uma nefropatia
obstrutiva. Dessa forma, a hidratação vigorosa, a infusão de bicarbonato de
sódio e manitol devem ser realizados. É importante também a realização de
avaliações neurológicas seriadas, pois pode ocorrer déficits neurológicos
tardiamente.
Íleo
metabólico: o processo inflamatório do queimado gera íleo paralitico enchendo o
intestino de ar o que facilita translocação bacterina. Isso geralmente ocorre
com 48hs e ai é necessário realizar apenas nutrição parenteral. Após 48hs
deve-se fazer nutrição enteral. Se tiver infecção tratar
antibióticos para gram positivo ou anaeróbicos de grande espectro.
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