Definição
Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é definida com uma intolerância a
carboidratos de gravidade variável, com início ou reconhecimento na gestação,
podendo persistir ou não após o parto. Caso a paciente apresente conhecimento
prévio do diagnóstico, nãoé considerado com DG. Cerca de 7% de todas as
gestações são complicadas pelo DMG e a prevalência oscila de 1 a 4%.É
considerada a complicação clínica mais comum da gravidez.
Incidência
Aproximadamente 7% de todas as
gestações complicadas por diabete resultando em mais de 200.000 casos anuais no
Brasil.A prevalência pode alcançar de 1 a 14% dependendo da população e dos
testes empregados.
Classificação
etiológica do Diabetes Mellitus:
É classificada com base no processo
patológico envolvido.
I
– Diabetes tipo I
A – Mediado imunologicamente: forma mais comum
de diabetes tipo 1, que resulta de uma destruição autoimune das células β
pancreáticas, levando geralmente a deficiência absoluta de insulina e tendência
a cetose. Ocorre geralmente abaixo dos 30 anos de idade. Pacientes tem
predisposição a outras doenças autoimunes.
B – Idiopático: sem causa determinada
Diabetes
tipo 2
É
a forma mais frequente de diabetes, relacionada com resistência periférica a
insulina.clinicamente os pacientes são mais velhos e obesos. A acidose é rara e
existe forte influência familiar.
Outros
tipos específicos de diabetes
Hiperglicemia gerada por defeitos
na secreção e/ou na ação de insulina por causas genéticas, endócrinas, tóxicas,
infecciosas e imunológicas que secundariamente levam a diabetes.
Diabetes
Mellitus gestacional.
Intolerância aos carboidratos de
inicio na gravidez podendo ou não persistir após o parto. Envolve também a
tolerância diminuída a glicose pré-gestacional não diagnosticada, o diabetes
tipo 1 e 2 incipiente e o diabetes clínico tipo 1, desenvolvido após o ultimo
trimestre da gravidez.
Tolerância
diminuída à glicose e intolerância à glicemia de jejum.
Refere-se ao estágio metabólico
intermediário entre homeostase normal da glicose e o diabetes melitus.
Corresponde a glicemia de jejum ≥ 100mg/dl e ≤ 126mg/dl.
O rastreamento do diabete
mellitus gestacional deverá ser realizado em todas as gestantes.O cuidado com a
diabética tipo 1 ou 2 que pretende engravidar deve ser iniciado antes da
concepção, sendo a meta alcançar bom controle glicêmico.
Fisiopatologia
O modo
como a gravidez é capaz de levar a esse estado temporário de diabetes é
desconhecido. São possíveis explicações:
·
↓da secreção de insulina;
·
Alterações na ação da insulina;
·
Secreção ↑de hormônios com efeitoantiinsulínico;
·
↓da sensibilidade dos tecidos à insulina.
Alterações
metabólicas na gestação normal
O feto
utiliza a glicose como principal substrato energético. Ela atravessa a placenta
através de difusão facilitada.A secreção de insulina pelo pâncreas fetal
inicia-se a partir da 12a semana de gestação. Porém, até a 28a
semana as células beta não respondem aos estímulos da glicose, respondendo
apenas aos aminoácidos, que atravessam a placenta por transporte ativo.
O feto
em crescimento depende do suprimento materno de glicose, aminoácidos e lípides,
que são regulados, em parte, pela insulina.A contínua solicitação de glicose
pelo feto e a ação dos hormônios placentários alteram o metabolismo materno.
Assim, o feto terá os substratos energéticos que necessita.
O
organismo materno precisa utilizar mecanismos metabólicos alternativos para
produção de energia, como a glicogenólise, a gliconeogênese e a hidrólise de
triglicérides.Esse processo ocorre em duas fases distintas: o anabolismo até a
27a semana de gestação o catabolismo apartir da 28a
semana.
Adaptação
do metabolismo materno na gravidez normal
Fase anabólica da gravidez:
A ação do estrogênio e
progesterona induz a acentuada hiperplasia das celas beta pancreáticas gerando
um hiperinsulinismo. Isto gera um aumento da utilização periférica da glicose e
elevação dos estoques de glicogênio nos tecidos e diminuição da glicemia em
jejum. Paralelamente há redução das concentrações plasmáticas de aminoácidos e
aumento da lipogênese. A grávida conserva glicose, aumentando a lipogênese e a
produção de glicogênio pelo fígado.
Fase catabólica da gravidez:
A fase catabólica caracteriza-se
por redução dos depósitos de glicogênio no fígado, maior produção hepática de
glicose e elevada mobilização de aminoácidos me gorduras, garantindo maior
formação de substratos energéticos necessários ao desenvolvimento fetal. Nesta
fase a tolerância a glicose diminui, acentua-se a hipoglicemia de jejum,
enquanto os níveis de insulina se elevam de maneira acentuada, sugerindo a
ocorrência de resistência periférica a insulina. Esta parece decorrer da ação
da progesterona, prolactina, cortisol e em especial do hormônio lactogênico
placentário (tem forte ação antiinsulínica e lipolítica). O aumento da lipólise
leva ao aumento de ácidos graxos, glicerol e cetonas na circulação (aumentam
ainda mais a resistência á insulina).
O final
da gravidez também é caracterizado pelo “jejum acelerado”.Como a maior parte da
glicose num período pós absortivo precoce deriva da glicogenólise, há ↓ das
reservas hepáticas de glicogênio.Além da glicose, o concepto retira
aminoácidos, o que limita a gliconeogênese hepática materna e ↑ a lipólise. A
lipólise gera glicerol que é um excelente substrato para a gliconeogênese
hepática, ácidos graxos e glicerol que funcionam como combustível para esta
gliconeogênese.
Em resumo, a transferência para o feto de
glicose e aa tende a reduzir a glicemia em jejum e acentuar a utilização dos
ácidos graxos ecetogênese. Com a progressão da gravidez, ocorre aumento dos
hormônios que antagonizam a ação da insulina, o que culmina com resistência
insulínica e com hiperglicemia pós-prandial,
O final
da gestação é caracterizado pelo crescimento fetal e pelas respostas maternas
às suas crescentes necessidades de nutrientes.Estas incluem um desvio acelerado
da utilização de carbidratos para o de gorduras (padrão de “jejum acelerado”),
facilitado pele resistência periférica à insulina e níveis aumentados de
hormônios com ação lipolítica.
Alterações metabólicas na gestante diabética
As
fases de anabolismo e catabolismo ocorrem também na gestante diabética.No DMG,
a partir da 27a semana, ocorre aumentoda passagem de glicose para o
feto, ocorrendo hiperglicemia neste. A hiperglicemia é toxica para o feto, pois
gera excesso de radicais livres.
Na
diabética clínica, tanto a glicemia quanto os ácidos graxos livres, cetonas e
aminoácidos estão aumentados desde o início da gestação e podem levar a
importantes complicações fetais e neonatais.
Numa
gestação normal, a glicemia de jejum apresenta-se progressivamente reduzida
devido ao hiperinsulinismo e à maior transferência de glicose para o feto.No
período pós-alimentar, os níveis glicêmicos são mais elevados graças à
resistência periférica à insulina.
Desta
análise, conclui-se que, na primeira metade da gestação, com frequênciaocorre
redução da dose de insulina, para que se evitem as hipoglicemias, especialmente
de jejum, enquanto na segunda metade há necessidade do seu incremento em função
da elevação dos hormônios contra-insulares.
Repercussões Perinatais
Macrossomia
Ocorre
em 20% a 41% das gestantes diabéticas e parece decorrer do hiperinsulinismo
fetal.A insulina estimula a síntese de glicogênio, gorduras e proteínas devido
à sua ação anabólica e à presença de grandes quantidades de glicose.
O
resultado é a macrossomia e a organomegalia fetais.Aminoácidos, ácidos graxos
livres e alguns peptídeos maternos também participam do processo.O IMC materno
e o ganho de peso durante a gestação também influenciam a macrossomia.
Os
fetos macrossômicos apresentam maior incidência de distócia de ombro devido a
um crescimento assimétrico (circunferência torácica maior que a craniana).A
distócia pode levar à paralisia de Erb (paralisia do plexo braquial), fratura
de clavícula, sofrimento fetal, baixo índice de Apgar e anóxia perinatal.
A
macrossomia geralmente não ocorre nas gravidas portadoras de diabetes mellitus
tipo 1, pois nestas existe, na maioria das vezes, vasculopatias que geraram
insuficiência placentária e consequentemente CIUR.
Outra
consequência que pode ocorrer é compressão do cordão umbilical durante o parto
normal gerando anóxia perinatal.
OBS:
feto diabético geralmente apresenta aumento de área cardíaca.
Hipoglicemia
fetal
Ocorre
em 24% a 50% dos nascituros de mães diabéticas.Tem sido atribuída à
hiperinsulinemia fetal que diminui a produção de glicose e causa menor
possibilidade de utilização de glicogênio nas primeiras horas de vida.O mau
controle glicêmico durante a gravidez, trabalho de parto e parto influenciam o
grau de hipoglicemia.
Policitemia
É
definida como hematócrito venoso maior que 65%.Incide em aproximadamente 35%
dos recém-natos de gestantes diabéticas. Resulta do aumento da eritropoietina
induzida pela hipóxia fetal crônica. É frequente a associação de
hiperbilirrubinemia, acredita-se devido a imaturidade hepatica.
Sindrome do desconforto respiratório
Tem
incidência de 3,6%.A hiperglicemia e o hiperinsulinismo fetais são os fatores
responsáveis pelo retardo na maturação pulmonar.Acredita-se na competição entre
insulina e cortisol em receptores pulmonares. Isto dificulta a produção de
vários fosfolípides, em especial o fosfatidilglicerol (surfactante).
Hipocalcemia
É definida como níveis séricos de cálcio total
<7mg/dl ou de cálcio ionizado <3mg/dl. Incidência de 50% das gravidas. Parece
decorrer da deficiente secreção do hormônio paratireoidiano durante os
primeiros 4 dias de vida. Isto decorre de hipomagnesia neonatal secundaria a
perda urinaria materna do magnésio em função da hiperglicemia e consequente
poliúria.
Anomalias fetais
Constituem
a causa mais importante de mortalidade perinatal dos nascituros de mães
diabéticas.Incidência de 6% a 13%.
As
principais alterações são: defeitos do septo ventricular, transposição de
grandes vasos, persistência do canal arterial, anormalidades da regressão
caudal (defeito no fechamento da coluna), anomalias renais e do SNC.
O
controle glicêmico antes da concepção e durante a organogênese reduz a
incidência de anomalias e dos abortamentos. Assinala-se a importância da hipo e
hiperglicemia, radicais livres, inibidores de somatomedina, deficiência de
acido aracdônico e do mioinositol para o desenvolvimento destas anomalias.
O
efeito negativo da hiperglicemia sobre a organogênese se deve a produção de
radicais livres e a menor ação de genes que são responsáveis pela produção de
acido aracdônico, causando defeitos no tubo neural. Os principais defeitos são
cardíacos, de fechamento do tubo neural e síndrome de regressão caudal.
Nas
primeiras 14 semanas o controle glicêmico deve ser rigoroso, pois é a fase da
organogênese.
Prematuridade
Pode
ocorrer em até 36% das gestantes diabéticas.HAS, acidose metabólica, rotura
prematura de membranas, infecções e pré-eclâmpsia podem contribuir.
O
adequado controle glicêmico e o tratamento das infecções favorecem prognóstico
próximo ao das gestantes normais.
Mortalidade
perinatal
Com o
melhor controle do diabetes antes e durante a gravidez e dos intensivos
cuidados obstétricos e perinatais, a incidência tem sido de 2% a 4%.Dos óbitos,
30% a 40% são devido às anomalias fetais; 30% decorrentes da prematuridade e
20% a 30% por anóxiaintra-uterina.
São
fatores que podem geram hipóxia fetal: hiperglicemia, ↑HbA1c, edema das
vilosidades coriais e ↓do fluxo sanguíneo
nas artérias deciduais. A teoria mais aceita é a da hiperglicemia e
hiperinsulinemia. Estas levariam a hipóxia fetal, gerando policitemia que
facilitariam a formação de trombos gerando os óbitos fetais.
Repercussões maternas
Pré-eclâmpsia
Há
suspeitas de que a resistência à insulina e a intolerância aos carboidratos
podem preceder o início da hipertensão.A hiperglicemia e a diminuição da tolerância
a glicose podem contribuir para a disfunção do endotélio.
Polidrâmnio
Incide
em 18% das gestantes diabéticas.Pode estar relacionado com o aumento da diurese
osmótica fetal graças aos efeitos da insulina sobre o balanço do sódio. O
aumento das anomalias do SNC e do TGI também podem ser causas.
Bacteriúria assintomática e pielonefrite
As
alterações que ocorrem no trato urinário durante a gravidez normal, associadas
à glicosúria da grávida diabética e à predisposição maior para infeções
facilitam a pielonefrite.A infeção urinária é acompanhada de 40% de perda
fetal, devendo ser evitada através do tratamento precoce. Outro fator que
predispõe a essas infecção é o maior tamanho uterino que comprime mais as vias
urinárias causando maior estase. Constitui o sinal de maud prognóstico de
Pedersen.
Mortalidade materna
Na
última década, o índice de mortalidade materna nas gestantes diabéticas foi de
0,5%.A maioria desses óbitos resultou de nefropatias, coronariopatias e doenças
vasculares. A mortalidade reduziu depois da era insulínica.
Rastreamento
O teste
mais preconizado para o rastreamento do DMG é o de O’Sullivam e cols. Consiste
na ingestão de 75g de glicose, em qualquer momento do dia, seguido da
determinação da glicemia plasmática uma hora após.O limite de referência do
teste é de 140 mg/dl. Valores acima deste exigem confirmação diagnóstica
através do TOTG.
O teste
deve ser realizado entre 24 e 28 semanas em gestantes que preencham um ou mais
dos seguintes critérios:
·
Idade maior de 25 anos;
·
HF de diabetes em parentes de 1o grau;
·
IMC>25kg/m2 antes da concepção;
·
Pertencer a grupos étnicos/raciais de elevada
prevalência de diabetes (hispânicos-americanos, índios americanos, asiático
americanos, afro-americanos ou das Ilhas do Pacífico).
Como
a população brasileira preenche o critério racial, indica-se o rastreamento universal
para todas as gestantes.
A
Associação Americana de Diabetes (ADA) propõe que níveis de glicemia de jejum
>126mg/dl ou glicemia plasmática obtida em momentos aleatórios do dia
>200mg/dl, quando confirmados no dia seguinte, dispensam a realização desse
rastreamento.
Diagnóstico
O
rastreamento do DMG é realizado em todas as gestantes, na primeira consulta
pré-natal, através da glicemia de jejum e do teste de 75g de glicose. O
diagnóstico é confirmadoatravés do TOTG, com ingestão de 100g de dextrosol.
Os
valores estabelecidos foram os apresentados na tabela abaixo:
O teste
é considerado alterado se dois ou mais destes valores apresentarem-se iguais ou
acima dos estabelecidos.
Glicemia
maior que 140mg/dl após 2hs de dextrosol faz diagnóstico de DG em 85% dos
casos. Nesse caso, deve-se realizar o TOTG para confirmar. Dosar a glicose em
jejum que deve ser até 95mg/dl, 1h pós dextrosol, que deve ser ate 180mg/dl, 2
hs pós dextrosol que deve ser até 155mg/dl e 3hs pós dextrosol que deve ser até
140mg/dl.
Acompanhamento da gestante diabética
Cuidados pré-concepcionais
A
diabética tipo 1 ou 2 que pretende engravidar deve:
·
Dar atenção à dieta, ao controle glicêmico, ao
regime insulínico e à atividade física.
·
Ser pesquida quanto à presença de nefropatia e
retinopatia;
·
Ser informada de que a presença de coronariopatia,
retinopatia proliferativa e insuficiência renal são contra-indicações para a
concepção.
A retinopatia tende a se agravar na gravidez , provavelmente devido ao
aumento do fluxo sanguíneo retiniano da presença de fatores de crescimento
associados a própria gestação.
Assistência
pré-natal
O pré-natal deve ser iniciado o
mais precocemente possível. Na 1a consulta, além da rotina habitual,
deve-se investigar:O tipo de diabetes, idade de aparecimento, duração da
doença, complicações agudas e crônicas, tratamentos realizados. Realizar análise
da função renal (uréia, creatinina, ác. úrico, proteinúria de 24h, Na+,
K+, clearance de creatinina), ECG, exame de fundo de olho.
Determinar o perfil glicêmico (jejum e 2h pós prandiais), HbA1c e análise da
função tireoidiana.US deve ser feito para confirmar a idade gestacional.
As consultas subsequentes serão realizadas quinzenal ou semanalmente, de
acordo com o perfil glicêmico, complicações clínicas e/ou obstétricas ou
alterações nos exames laboratoriais.
No 1o trimestre, a meta é manter adequado controle glicêmico
visando reduzir malformações fetais e abortamentos.No 2o trimestre,
solicita-se a US morfológica fetal para detecção de anomalias congênitas. A
ecocardiografia fetal está indicada entre 18 e 22 semanas e no 3o
trimestre.No 3o trimestre, deve-se realizar ecografia de forma
seriada para acompanhamento do crescimento fetal e avaliação do líquido
amniótico.
É necessária atenta vigilância devido ao risco de pré-eclâmpsia,
polidrâmnio, trabalho de parto pré-termo, macrossomia, insuficiência
placentária e óbito intra-útero.
Assim, além do controle do diabetes é indispensável os testes de
vitalidade fetal.
Acompanhamento clínico
É
necessárioacompanhamento da gestante por equipemultidisciplinar para
observaçãorigorosa da dieta, da insulinoterapia, dos exercíciosfísicos e do
controle da glicemia.
Dieta
A
quantidade total de calorias deve ser proporcionada por 40 a 50% de carboidratos,
25% de proteínas e 30% de gordura. Deve-se dar preferência a carboidratos
complexos ricos em fibras.
O cálculo
do valor calórico total é baseia-se no indíce de massa corporal
pré-gestacional:
·
30 Kcal/Kg para gestantes eutróficas;
·
25 Kcal/Kg para as obesas;
·
35 a 40 Kcal/Kg para aquelas com peso abaixo do
ideal.
Os
alimentos devem ser divididos em 6 refeições diárias. Importante incluir
carboidratos complexos e proteínas no lanche noturno para previnir a
hipoglicemia da madrugada e a cetose do jejum. Em pacientes obesas não se
recomenda a perda de peso pleo risco de cetonemia, pela grande quebra de
lipideos.
Insulinoterapia
A
insulina tem sido o único medicamento disponível para terapia do DM na
gravidez.Todos os tipos de insulina podem ser utilizados, já que nenhum
ultrapassa a placenta. A menos imunogênica, no entanto, é a insulina humana
monocompetente. Os esquemas propostos se baseiam no peso corporal e na idade
gestacional.
Doses:
0,7U/Kg/dia
no 1o trimestre;
0,8U/Kg/dia
no 2o trimestre;
0,9 a
1,0 U/Kg/dia no 3o trimestre.
A
insulinoterapia é instituída quando a terapêutica medica nutricional e os
exercícios físicos não conseguem manter os níveis de glicemia em jejum < 95
mg/dl ou de duas horas pós-prandial < 120 mg/dl.
Exercício físico
A
atividade física aumenta o consumo de glicose pelos eritrócitos e fibras
musculares, mas libera substâncias vasoativas, sendo contra-indicada nas
grávidas diabéticas hipertensas ou portadoras de doenças macro ou
microvasculares.Nas gestantes sem contra-indicações, o exercício pode ser
recomendado por aumentar o consumo periférico de glicose e diminuir a
resistência à insulina.
Faz
parte do tratamento e utiliza exercícios propostos para a gravidez normal.
Deve-se ter o cuidado para que a FC não exceda 70% da FC ajustada para a idade.
Metas do controle glicêmico
Durante
a gestação, até que ocorra o ajuste das doses de insulina, o controle é
realizado diariamente através da glicemia de jejum e 2h pós prandiais.Na DMG, a
automonitorização da glicemia capilar em domicílio deve ser feita 4 vezes por
dia (jejum e 2h após as refeições).
Nas
diabéticas pré-gestacionais, a automonitorização deve ser feita de 5 a 7 vezes
ao dia (jejum, antes e após almoço e jantar e, eventualmente, às 3h da manhã).
O objetivo é manter a glicemia de jejum <95mg/dl e a pós-prandial
<120mg/dl durante toda a gestação.
As
dosagens de hemoglobina glicosilada e frutosamina são indicadas para avaliar o
controle metabólico, devendo ser realizadas a cada 2 meses e a cada 21 dias
respectivamente. Além destes, a cetonúria deve ser avaliada diariamente.
Critérios de internação
As
gestantes diabéticas podem ser internadas para melhor avaliação nas seguintes
situações:
·
Pré-eclâmpsia;
·
Polidrâmnio;
·
Oligoidrâmnio;
·
Pielonefrite;
·
Dificuldade de controle dos níveis glicêmicos;
·
Cetoacidose;
·
Alterações da função renal;
·
Retinopatia;
·
Restrição do crescimento fetal;
·
Hipertensão arterial;
·
Comprometimento da vitalidade fetal.
Conduta na hipoglicemia
A
hipoglicemia caracteriza-se por glicemia <50mg/dl com presença de sintomas
como sudorese, tremores, taquicardia, tonturas e hipotensão.O tratamento é
feito com ingestão de 15g de carboidratos sob a forma de suco de frutas, leite,
açúcar ou mel.Após 15 minutos, reavaliam-se os níveis de glicemia e
administra-se mais 15g de carboidratos caso o valor encontrado seja
<60mg/dl. Pode ser gerada por doses elevadas de insulina e ocorre
principalmente no primeiro trimestre.Nas pacientes com confusão mental ou
inconscientes, administram-se 20 ml de glicose a 50% EV ou uma ampola de
glucagon IM.
Conduta na hiperglicemia
Deve-se
modificar a dose e/ou distribuição da insulina. As razões para a ocorrência de
hiperglicemia de jejum são a diminuição da ação de insulina, o fenômeno do
despertar e o de Somogiji (hiperglicemia de rebote).
Cetoacidose diabética
É umas
das complicações mais graves da hiperglicemia levando a óbito fetal em 90% dos
casos. O tratamento objetiva a correção do déficit de volume, do desequilíbrio
hidroeletrolítico, da hiperglicemia e de infecções, se presentes.Inclui
reposição hídrica, insulinoterapia e, em casos mais graves, uso de bicarbonato.
Avaliação da vitalidade fetal
É feita
pelo mobilograma (contagem dos movimentos fetais, a partir de 28 semanas),
cardiotografia (a partir de 32 semanas), perfil biofísico fetal (a partir de 28
semanas) e dopplervelocimetria (a partir de 26 semans). A maturidade fetal pode
ser avaliada em fetos com menos de 38 semanas de gestação através de
aminocentese.
Critérios e métodos para interrupção da gravidez
O
objetivo do controle intensivo da grávida diabética é o parto a termo, para que
o recém-nascido apresente morbimortalidade equivalente ao de uma gestação
normal.A presença de complicações maternas e/ou fetais ou má história obstétrica
impõem a interrupção gestacional.
Via de
parto
Nos
casos bem controlados, sem complicações maternas e/ou fetais, o parto pode ser
por via vaginal (espontâneo ou induzido).Na presença de complicações, está
indicado o parto cesáreo.
Conduta
pós-parto
Após o
parto, há aumento da sensibilidade à insulina em todos os tipos de diabetes,
requerendo ajuste ou até suspensão das suas doses de acordo com os níveis
glicêmicos realizados 1, 2, 4 e 6h após o parto.As mulheres com DMG que
utilizaram insulina durante toda a gravidez devem interromper seu usoaté nova
avaliação com 6 semanas de puerpério.
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