Constipação intestinal na infância e na adolescência
Importância
·
Prevalência (Brasil): 17,5 á 38,5%
·
Constitui a queixa principal em 3% das consultas
pediátricas e 24% em gastroenterologia infantil;
·
Uma a cada dez crianças requerem atenção medica
para a constipação em alguma época de suas vidas.
Frequência normal das evacuações
A
frequência das evacuações varria com a idade e com o tipo de dieta. O peso, o
volume e a consistência fecal dependem entre outros fatores do peso hídrico e a
quantidade de fibras da dieta. Quanto menor a criança maior a frequência de
evacuações, sendo mais frequentes em bebes que mamam leite materno.
Conceitos
Constipação intestinal
È a eliminação de fezes
endurecidas, como esforço, dor ou dificuldade, associada ou não a aumento do
intervalo entre as evacuações, escape fecal (retêm tanto as fezes que faz
pressão grande no esfíncter anal) e aumento em torno das fezes. É a presença de
um dos seguntes achados por 3 ou mais semanas:
·
Eliminação de fezes endurecidas, ressecadas e calibrosas
;
·
Frequência de evacuações igual ou menor que 2X
por semana;
·
Dor e/ou esforço evacuatório acompanhado ou não
de sangramento;
·
Escape fecal e/ou encoprese;
·
Presença de fecaloma;
·
Manobras de retenção fecal;
·
Relato de sensação de esvaziamento incompleto do
reto
Escape fecal ou soiling:
indica a perda involuntária de parcela do conteúdo retal, consequente a fezes
impactadas no reto. OBS: escape fecal deve ser caracterizado somente após o
quarto ano de vida, entretanto, observam-se também crianças menores com essa
manifestação, principalmente, quando o controle do esfíncter anal ocorreu antes
do aparecimento da mesma.
Incontinência fecal funcional
ou encoprese: pode ser entendida, em analogia com a enurese, como sendo o
completo ato de defecação, em sua plena sequencia fisiológica, em local e/ou
momento inapropriados, sendo em geral, secundaria a distúrbios psicológicos ou
psiquiátricos, em crianças que já adquiriram o controle evacuatório. Deve
ocorrer com a frequência de pelo menos 1 vez por mês por mais de 3 meses.
Incontinência fecal: fica
reservada para a falta de controle esfincteriano decorrente de causas orgânicas
como anomalias anorretais e disfunções neurológicas, como nos pacientes com
meningomielocele.
Na prática, a
constipação crônica na infância pode ser distribuída em duas categorias:
funcional e secundária a distúrbios intestinais e extra-intestinais. A maioria
dos casos se enquadra na constipação crônica funcional.
Fisiologia da evacuação
A defecação é
um processo fisiológico complexo. Primeiro a entrada do alimento no intestino
delgado gera o reflexo gastrocólico (alimento chega ao estomago e colo começa a
contrair), que tem a finalidade de transportar o material fecal até o cólon. A
contração colônica tem dois movimentos segmentação (tem a finalidade de
misturar o conteúdo colônico, facilitando a absorção de agua e de outros
nutrientes) e propulsão (empurra o bolo fecal para o reto). Normalmente o reto não contem fezes, o bolo
fecal presente nesse ele distende a parede estimulando receptores que causam
relaxamento de esfíncter anal inferior, aumento das ondas peristálticas,
relaxamento do assoalho pélvico e contração ou relaxamento do esfíncter anal
externo (controle a partir de 1 ano á 6 meses, se ate 4 anos não tiver controle
deve-se pesquisar que pode ser patológico). Esse reflexo é conhecido com
retoanal, retoesfincteriano ou retoanal inibitório (pode ser avaliado por
manometria anorretal). Quando este reflexo é desencadeado, ocorre contração
voluntaria do esfíncter anal externo ate que o individuo chegue a um local
apropriado para defecar. Se a evacuação não ocorrer as fezes retornam ao
sigmoide até o próximo movimento de peristalse.
Fisiopatologia
A constipação
ocorre quando alguma dessas etapas não é feita de forma correta. Varias teorias
podem explicar a fisiopatologia:
·
Distúrbio de motilidade: pressão
esfincteriana elevada, perda de relaxamento do esfíncter anal inferior após
distensão retal, sensibilidade retal alterada, redução da propulsão colônica ou
combinação dos mecanismos acima;
·
Fatores psíquicos : SNC extremamente
envolvido com o sistema digestório;
·
Fatores genéticos;
·
Fatores ambientais: dieta (junk food,
pobre em fibras), retenção colônica.
Quando as
fezes não são eliminadas, o reto passa a conter fezes progressivamente mais
ressecadas e em maior volume (fecaloma). Durante anos esse mecanismo leva á
dolico colón (colón muito dilatado) e inercia do cólon. Instala-se assim um
ciclo vicioso: o medo de evacuar fezes endurecidas e volumosas faz com que a
criança mantenha, inconscientemente, o quadro de retenção fecal. Podendo haver
também contração paradoxal dos músculos da pelve (ao invés de relaxarem esses
se contraem no momento da defecação- anismo). A retenção fecal crônica acaba
por levar a diminuição do limiar de sensibilidade retal.
Classificação
Pode ser
classificada de acordo com o tempo de evolução (aguda e crônica) e os
mecanismos fisiopatológicos desencadeantes (funcional ou orgânica). A funcional
pode ainda ser subclassificada em simples ou idiopática e a orgânica em
intestinal e extra-intestinal.
Aguda
Pode ocorrer
durante ou após mudança de hábitos: alteração da dieta, viagem, doenças agudas,
pós-operatórios (principalmente de procedimentos retais), uso de medicamentos
(anticolinérgicos: opiáceos, fenobarbital, sulcralfato, hidróxido de alumínio,
anticolinérgicos, antidepressivos tricíclicos e simpatomiméticos). Geralmente dura 2 semanas e o habito
intestinal normal é restabelecido espontaneamente ou após a correção dos
fatores desencadeantes. O tratamento é resolução/remoção do fator desencadeante.
Crônica
Constipação intestinal crônica
pode ser dividida em funcional ou orgânica.
Constipação intestinal crônica
intestinal
É empregada
quando não são identificadas causas orgânicas ou estruturais da constipação. O
entendimento da interação entre atividade motora, sensorial e nervosa do
intestino e o sistema nervoso central possibilitou melhor caracterização dessa
entidade. As alterações gastrointestinais funcionais foram classificadas da
seguinte forma:
1) Simples:
É uma condição
clinica comum. O diagnostico deve ser considerado em lactentes sadios com
duração menor de 6 meses, com esforço e choro por mais de 10 minutos antes da
eliminação das fezes durante o treinamento esfincteriano (precoce ou coercivo).
Esse quadro é denominado disquesia. É mais comum em meninos com historia
familiar de constipação. A causa em meninas é devido ao adiamento do ato
evacuatório por constrangimento da utilização de sanitários públicos. Outra situação é a criança que “não tem tempo
para ir ao banheiro”.
2)
Idiopática:
Causa mais
comum de constipação na infância. Decorre de repetidas tentativas de evitar a
evacuação, devido ao medo de eliminar fezes endurecidas e/ou calibrosas. Tem forte fator genético, sendo mais comum em
pacientes com parentes com constipação.
E pode funcionar com um gatinho para o desenvolvimento e constipação
crônica funcional simples, fissura anal, abuso sexual e conflitos familiares. Na
tentativa de conceituar o que é constipação intestinal idiopática fez-se um
estudo que classificou a constipação:
3) Orgânica:
Pode ser decorrente de causas orgânicas de origem intestinal por
malformações anorretais (criança não recebe alta da maternidade se não evacuar,
exemplos seriam as estenoses retais), tumores ou causas extra intestinais como
hipotireoidismo, paralisia cerebral, trauma medular, mielomeningocele.
Diagnostico diferencial:
Deve
ser feito com doença de Hirschsprung e constipação intestinal crônica funcional
. A doença de Hirschsprung é um megacolôn congênito aglangliônico, sendo mais
frequente em meninos e que tem como apresentação usual no RN constipação,
distenção abdominal e vômitos. Em lactentes e pré-escolares a doença se
caracteriza pela eliminação de fezes com volume diminuído. Outro diagnostico
diferencial deve ser feito com síndrome de pseudo-obstrução intestinal, causa
rara de constipação intratável.
A funcional
geralmente ocorre após adquirir o controle do esfíncter anal esterno.
Manifestações clínicas
·
Dor na evacuação com choros e gritos;
·
Recusa de usar o vaso sanitário;
·
Eliminação de pequena quantidade de fezes
liquidas ou pastosas na roupa intima da criança em intervalos irregulares;
·
Eliminação de fezes volumosas que podem entupir
o vaso sanitário;
·
Dor abdominal recorrente;
·
Eliminação de sangue nas fezes (fissuras anais
secundarias)
OBS: em
lactentes é importante diferir constipação de pesudoconstipação que é a
eliminação de fezes amolecidas e amorfas, sem dor nem dificuldade, mas que
ocorrem com intervalos que se prolongam por vários dias.
Diagnostico
Anamnese
Contemplar os
seguintes quesitos:
·
Frequência de evacuações;
·
Consistência e calibre das fezes (escala de
Bristol);
·
Esforço evacuatório;
·
Manobras de retenção fecal;
·
Teor de fibra e líquidos na dieta (idade +5g =11
{limite inferior} quantidade diária ideal de ingestão de fibra/ o valor máximo
deve ser de 25g/ a fibra para ter esse efeito deve ser necessariamente ingerida
com liquido- menor de ano 1l por dia, de 1 a 3 anos 1,5l de agua);
·
Escape fecal ou encoprese;
·
Sangramento anal/retal;
·
Duração dos sintomas;
·
Fatores associados (criança que não quer almoçar
e só quer mamadeira, leite de vaca pode causar constipação);
·
Historia pregressa: fases criticas;
·
Historia pessoal de atopia (PODE SER LEITE DE
VACA: proctite alérgica, não mediada por IgE);
·
Historia familiar de constipação ou de atopias.
Sinais e sintomas associados:
·
Dor abdominal recorrente (61%);
·
Escape fecal (45 a 50% e pode ser confundido com
diarreia);
·
Sangue nas fezes (35%);
·
Distensão abdominal (26%);
·
Enurese (23%);
·
Vômitos (19%);
·
Infecção urinaria (18%);
·
Retenção urinaria (8%);
·
Constipação oculta (8%).
Exame físico:
Abdome:
·
Inspeção: distensão abdominal (fecalomas e
retenção gasosa);
·
Palpação: massas fecais (geralmente na fossa
ilíaca esquerda e região hipogástrica);
Períneo
·
Escape fecal, fissuras e malformações;
Ânus
·
Toque retal (sensibilidade nessa região deve ser
pesquisa na suspeita de lesão neurológica, verificar tônus anal, o tamanho da
ampola retal, a presença de consistência e volume das fezes e compressões
extrísecas);
OBS: é
importante também realizar o exame neurológico da criança
Exames complementares
Na maioria dos casos não há
necessidade de exames complementares.
·
Raio X de abdome em incidência anterior e
perfil: permite visualizar distenção de gases, não ver ar na ampola retal
(sinal de doença de hisrsunprung, sinal de megacolon congênito), retenção fecal.
·
Raio X lombossacra: tufos de
cabelo na região lombossacra pensar em espinha bífida (que pode estar
associada a constipação intestinal e retenção urinaria) e em casos de retenção
fecal com escape de difícil tratamento.
·
Enema baritado (doença de HIsrprung) a técnica
usada é a de Neuhauser, que consiste na introdução de pequena quantidade de contraste,
sem pressão e sem preparo intestinal prévio, por meio de sonda introduzida
alguns centímetros do reto. O achado é de uma zona de transição (deve-se fazer
biopsia dessa).
·
Tomografia: tumor, causa orgânica
·
Manometria anorretal: dá certeza do
diagnostico da doença de Hirschsprung (tem alteração dessa pressão), permite
ainda diagnosticar incontinência fecal e constipação grave. Coloca-se um balão
inflável no reto e de receptores de pressão nos esfíncteres anais, e mede-se a
pressão sobre eles. Na doença não há fase de relaxamento , a pressão é sempre
alta.
Tratamento
Tem o objetivo de interromper o
mecanismo de retenção fecal em vários pontos do circulo vicioso.
Não farmacológico:
·
Aumentar a ingesta hídrica (1l/dia para crianças
de 10kg e 1,5 á 2 l pra crianças acima de 30kg);
·
Reduzir ou suspender o leite de vaca (em caso de
atopia);
·
Probióticos (estudos em crianças não são
conclusivos, para ser eficaz deve ter alta concentração que a maioria dos
medicamentos não tem, por isso não se indica normalmente esses);
·
Orientar ao paciente e á família (muitos pais
acreditam que o escape é proposital e castigam os filhos);
·
Suporte psicológico (principalmente na
funcional);
·
Adequar a ingesta de fibras: idade +5g, máxima
de 25g/dia (as fibras aumentam a retenção de agua no colón e servem como
substrato para o crescimento bacteriano, aumentando assim o bolo fecal).
Alimentos
ricos em fibras
Entre as frutas a mais laxante é
a ameixa seca. Tratamento biofeedback: educar a criança a defecar (sem revista,
apoiar o pé no chão).
Tratamento farmacológico
Acabar com o ciclo da constipação.
Desimpactação:
É essencial para o sucesso do
tratamento e consiste na eliminação dos fecalomas. É um procedimento invasivo e
muitas vezes difícil de ser realizado pela família. É feito da seguinte maneira
·
Via oral (forma ideal): polietilenoglicol (PM
4000 daltons, sem eletrólitos)- é manipulado, dever ser usado em maiores de 1
ano 1,5g/kg/dia, durante 6 dias; NÃO ADMINISTRAR EM CRIANÇAS MENORES DE 2 ANOS,
CRIAÇAS COM RGE, DEFICT NEUROLOGICO E/OU DISTURBIOS DE DEGLUTIÇÃO, POIS PODE
LEVAR A PNEUMONIA
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Óleo mineral, 15 a 30ml/ano de vida (pode
provocar pneumonia lipoide exógena) , usar a parti de 2 anos anos de idade
(máximo de 240ml), por 3 dias;
·
Via retal: vaselina glicerinada 12%, 10 á
20ml/kg (máximo 500ml) 1 vez ao dia por
1 a 7 dias.
Laxativos lubrificantes:
A escolha depende da idade da
criança e da gravidade da doença. Amolecem as fezes e impedem a impactação.
·
Óleo mineral: 1 a 5 ml/kg/dia, em 1 a 3 doses;
(mais de 2 semanas pode prejudicar a absorção de vitaminas lipossolúveis).
Osmóticos:
Contêm íons não absorvíveis que
tem efeito osmótico.
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PEG: 0,5g/Kg/dia
·
Lactulose: 1 a 3 ml/kg/dia, em 1 a 2 doses;
·
Sorbitol: 1 a 3 ml/Kg/dia, em 1 a 2 doses
·
Hidróxido de magnésio: 1 a 3 ml/kg/dia em 1 a 2
doses;
Estimulantes:
Estimulam a secreção intestinal
em aumento da motilidade intestinal. Usados como “terapia de resgate”.
Oral: sene 2,5 a 7,5 ml/kg/dia (2
a 6 anos, usar com cautela porque podem lesar o sistema nervoso entérico); 5 a
15mg/kg/dia (6 a 12 anos).
Local: supositório de glicerina.
Usar por tempo curto.
gostei achei bastante esclarecedor.
ResponderExcluirObrigado.