É uma das mais antigas doenças
que se tem conhecimento, mas que voltou a ter grande importância por causa de
sua estreita associação com a AIDS. A transmissão do agente etiológico (Mycobacterium tuberculosis) se faz de
pessoa para pessoa, através de aerossóis. A tuberculose representa uma doença
da imunidade, ou seja, da capacidade de cada indivíduo de se defender contra um
microrganismo. Condições que alteram as defesas do hospedeiro, como
desnutrição, alcoolismo e fármacos imunossupressores, podem ser tomadas como o
ponto de partida para a tuberculose pulmonar.
Dependendo da carga inalada,
alguns bacilos escapam dos mecanismos habituais de defesa e ganham acesso aos
alvéolos, após vencerem os mecanismos defensivos usuais no trato respiratório
superior e nos alvéolos.
Tuberculose primária
É aquela que ocorrem em
indivíduos que não tiveram contato prévio com o M. tuberculosis. É mais comum em crianças, mas pode acometer
indivíduos que se mudam do ambiente rural para o urbano. O primeiro contato do
bacilo com o indivíduo determina diversas reações:
1. reação
exsudativa: os bacilos inalados chegam aos alvéolos, onde os macrófagos
alveolares e neutrófilos atraídos pela fração de carboidrato da bactéria são a
primeira linha de defesa do hospedeiro. Nas três primeiras semanas de infecção,
a resposta inflamatória pulmonar é inespecífica e feita por neutrófilos e
macrófagos. Porém, os bacilos, mesmo sendo fagocitados, permanecem vivos,
proliferam e causam um foco de reação inflamatória inespecífica. Em alguns
indivíduos, ocorre liberação de substâncias oxidantes e elastases que originam
um foco de alveolite aguda exsudativa caracterizada por necrose de alvéolos,
exsudação de fibrina, neutrófilos degenerados e grande número de bacilos
viáveis.
2. reação
produtiva: macrófagos contendo bacilos são ativados, capazes de matar os
microrganismos, ao mesmo tempo em que liberam citocinas e quimiocinas
responsáveis por comandar a reação de hipersensibilidade e a formação de granulomas.
Os macrófagos transformam-se em células epitelioides; estas tendem a se
aglomerar e a formar sincícios, originando células gigantes multinucleadas.
Dessa forma, a inflamação adquire o padrão granulomatoso. Os granulomas contêm
uma ou mais células gigantes no centro, ao redor das quais existem células
epitelioides; na periferia são encontrados linfócitos, macrófagos e poucos
plasmócitos. No centro do granuloma há necrose caseosa.
3. reação
produtivo-caseosa: macrófagos, células epitelioides e linfócitos T causam a morte
dos bacilos. Surge necrose caseosa no centro do granuloma. Quanto maior a carga
de bacilos e maior o grau de hipersensibilidade do hospedeiro, maior é a
extensão da necrose nos granulomas.
4. reação
de cicatrização: com a morte dos bacilos e o controle da multiplicação
bacteriana, o granuloma entra em processo de cicatrização, hialinização e
calcificação.
A reação inflamatória inicial e
os granulomas formam-se preferencialmente na região inferior do lobo superior
ou na superior do lobo inferior. O conjunto desses granulomas recebe o nome de nódulo de Ghon. A partir desses, os
bacilos alcançam o sistema linfático e provocam linfadenite granulomatosa. Ao
conjunto de nódulo de Ghon e linfadenite dá-se o nome de complexo primário ou complexo
de Ghon. O complexo primário pode ter (1) cura (maioria dos casos) que se
dá pela destruição dos microrganismos e pelo processo reparativo de
cicatrização e calcificação das lesões. Neste caso, a infecção deixa apenas uma
cicatriz, sem haver o desenvolvimento da doença. Em algumas pessoas, alguns
bacilos podem permanecer dormentes nesses locais por muito tempo, mas sem
provocar lesões. Quando o indivíduo diminuir suas defesas, os microrganismos
voltam se multiplicar e originam doença; (2) evolução para a doença tuberculose.
Quando não há cura, os bacilos persistem nos tecidos, multiplicam-se e podem
disseminar-se para os próprios pulmões (pelas vias respiratórias – pneumonia
caseosa) ou para outros órgãos (pela via sanguínea – tuberculose miliar). Tudo
isso constitui a tuberculose progressiva
da infância.
Tuberculose secundária
Mais comum em adultos, é aquela
que ocorre no indivíduo que teve a primoinfecção. Algumas vezes ocorre por
bacilos dormentes no processo endógeno de reativação, enquanto outras vezes
ocorre por nova infecção pelo bacilo, a partir do ambiente (exógena). As lesões
da tuberculose secundária apresentam-se em quatro formas macroscópicas:
1. tuberculose
apical: a reativação dos bacilos dá origem a granulomas produtivos, granulomas
produtivo-caseosos e nódulos fibrocalcificados. Por essa razão, nesses casos
são freqüentes extensas lesões fibrocaseosas nos ápices pulmonares.
2. tuberculose
cavernosa: quando se forma extensa necrose nos locais atingidos, o material
necrótico se liquefaz e é drenado por um brônquio, dando origem a grandes
cavitações macroscópicas conhecidas como cavernas
tuberculosas. Com a fibrose que se forma na sua parede e no parênquima
adjacente, às vezes podem surgir outras lesões pulmonares.
3. tuberculose
ácino-nodosa: o transporte dos bacilos através dos brônquios por ação dos
movimentos respiratórios leva ao aparecimento de lesões peribrônquicas que
acompanham a histoarquitetura pulmonar. Nesse caso, a inflamação granulomatosa
compromete caracteristicamente ácinos pulmonares inteiros, podendo ser
reconhecida macroscopicamente como condensação parenquimatosa com a forma
acinar. Quando ácinos adjacentes são acometidos, formam-se as lesões em trevo.
Se os bacilos atingirem a pleura, forma-se pleurite tuberculosa com derrame
pleural.
4. tuberculose
miliar: a penetração dos bacilos nos vasos pulmonares leva ao implante do
agente em outras áreas do pulmão e em outros órgãos, formando grande número de
pequenos nódulos inflamatórios nos locais atingidos (nódulos miliares).
A tuberculose pode simular praticamente
qualquer pneumopatia. A tuberculose pulmonar pode disseminar também para outros
órgãos, com pleura (por continuidade – pleurite tuberculosa), laringe (por via
respiratória), intestino (por deglutição – tuberculose intestinal) e para
diversos órgãos, como rins, ossos, sistema nervoso entre outros (por via
sanguínea – tuberculose de órgãos isolados).
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