Os pulmões são órgãos com
interação entre os meios externo e interno. Através de uma área de troca de
100m2, ocorre absorção de O2 e sua ligação à hemoglobina,
efetua-se a liberação da maior parte do CO2, são realizadas
importantes reações do metabolismo de hormônios e inativação de xenobióticos. O
ar inspirado necessita de um condicionamento prévio antes de atingir o
território de trocas gasosas. O aquecimento até 37°C, a saturação com vapor de
água e a esterilização do ar que penetra a partir do meio externo garantem a
homeostase alveolar. Tais processos acontecem nas vias aéreas superiores e
terminam nos bronquíolos respiratórios de primeira ordem. A partir do
bronquíolo terminal aparece a unidade funcional, o ácino pulmonar.
Fases do desenvolvimento
pulmonar
1. Fase
embrionária: sexta semana com desenvolvimento das vias aéreas principais;
2. Fase
pseudoglandular: termina na 16ª semana com a formação dos bronquíolos
terminais;
3. Fase canalicular: desenvolvimento dos ácinos
pulmonares e sua canalização – término 28ª semana;
4. Fase sacular: até 36ª semana gestacional –
sáculos alveolares iniciam as divisões que darão origem aos futuros alvéolos.
5. Fase alveolar: da 36ª semana gestacional até
o 4º ano de vida pós natal.
Pneumócitos II produzem surfactante e têm função de reparo intersticial. A
principal função da camada de surfactante, que se situa entre as camadas de
água e de ar no interior do alvéolo, é a redução da tensão superficial no final
da expiração, a fim de se evitar o colabamento alveolar. Pulmões imaturos (até
aprox. 34 semanas de gestação) não produzem quantidade adequada de surfactante.
ANORMALIDADES NEONATAIS
ADQUIRIDAS
DOENÇA DAS MEMBRANAS HIALINAS
Ao nascimento, os pulmões
transformam-se em estruturas respiratórias plenamente funcionais. A doença das
membranas hialinas (conhecida na clínica como síndrome da angústia respiratória do recém-nascido) é muito mais
comum em recém-nascidos prematuros, que possuem pulmões imaturos.
Membranas hialinas formam-se
quando há deficiência do surfactante ou nas situações em que ocorre agressão
epitelial/endotelial. O surfactante é sintetizado pelos pneumócitos do tipo II;
sua produção atinge níveis fisiológicos a partir da 35ª semana de gestação. Os
fatores predisponentes são prematuridade, diabetes materno, cesariana, retardo
de crescimento intrauterino e gestações múltiplas.
Por reduzir a tensão superficial
dos alvéolos, o surfactante permite a abertura eficaz deles após os primeiros
movimentos respiratórios. Sem surfactante, ocorre colapso alveolar após cada
inspiração, com repercussões na perfusão e na ventilação. Isso exige maior
esforço mecânico do prematuro para manter a respiração. Com a hipóxia, surgem
lesão em células epiteliais e endoteliais e passagem de macromoléculas para os
alvéolos. A mistura de restos celulares com fibrina forma as membranas
hialinas.
Macroscopicamente, os pulmões são
vinhosos e têm consistência sólida. Ao microscópio, encontra-se colapso dos
espaços aéreos distais e necrose do epitélio dos bronquíolos terminais e dos
ductos alveolares, que ficam delineados pelas membranas hialinas. As membranas
formam-se em geral 2 h após o nascimento, processo é acompanhado por congestão,
edema e hemorragia pulmonar. A doença manifesta-se por insuficiência
respiratória 1 h após o nascimento. O raio-X mostra opacificação com
broncogramas aéreos evidentes.
A mortalidade da doença caiu
devido ao tratamento com surfactante e ao emprego de técnicas adequadas de
ventilação assistida. Em alguns casos, há recuperação da estrutura e funções
normais; em outros ocorre displasia broncopulmonar. Pode haver administração
antenatal de corticoides à mãe para induzir a síntese de surfactante.
SÍNDROME DE ASPIRAÇÃO MECONIAL
A eliminação de mecônio pelo feto
no útero ou no canal do parto pode resultar em aspiração meconial, que se
manifesta por sintomas respiratórios e, à radiografia, por atelectasia.
Histologicamente, observam-se tampões de mecônio obstruindo as vias
respiratórias, o que resulta em áreas de atelectasia ou de hiperdistensão;
estas últimas podem culminar em enfisema intersticial. Pode ser acompanhado de
membranas hialinas e persistência do padrão fetal da circulação pulmonar.
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